quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Hérnia de Disco: Cuidados ao Práticar Atividade Física

         Os números impressionam e são preocupantes. Afinal, pesquisas indicam que entre 80 e 85% dos adultos terão lombalgia (dores na região lombar, parte inferior das costas) em algum momento da vida, sendo que “destas, 97% estão relacionadas a dores mecânicas sendo 10% devido à degeneração discal e 4% devido à hérnia de disco”, conta a Professora Dra. Gabriela Molinari Fontela, fisioterapeuta e profissional de educação física.
              Na grande maioria das vezes, cerca de 90% das queixas, o motivo é uma hérnia de disco que, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), afeta cerca de cinco milhões de brasileiros. Os outros 10% podem ter causas como atividades físicas pesadas, posturas erradas, tumores e fraturas na coluna.
            Conhecer as características e a patologia é fundamental para que o profissional de educação física possa planejar e prescrever exercícios de forma segura e eficaz, além de manter uma relação multidisciplinar com o fisioterapeuta e o médico para obter bons resultados para o aluno. 
 

O que é a Hérnia de Disco

           A coluna vertebral é composta por vértebras com um canal interior por onde passa a medula nervosa. Entre as vértebras cervicais, torácicas e lombares, ficam os discos intervertebrais, que são estruturas com forma de anel, constituídas por tecido cartilaginoso e elástico que evita o atrito entre as vértebras e amortece impactos. 
              Hérnia de disco é a projeção da parte central do disco intervertebral (o núcleo pulposo) para além de seus limites normais (a parte externa do disco, o ânulo fibroso). Ocorre geralmente póstero-lateralmente, em virtude da falta de ligamentos que sustentem o disco nessa região. De acordo com o médico Alexandre Elias, neurocirurgião especialista em coluna, chefe do setor de cirurgia da coluna vertebral na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a hérnia de disco é uma doença que ocorre pelo desgaste ou trauma dos discos vertebrais lombares ou cervicais, que acabam pressionando as raízes nervosas mais próximas, provocando a dor. Com o passar do tempo, o problema chega a interferir na qualidade de vida, até mesmo limitando atividades rotineiras.
            A hérnia de disco pode ser causada por diversos fatores, como o genético, a degeneração do disco, a exposição à vibração por longo prazo combinado com o levantamento de peso – característico de algumas profissões como os operadores de britadeira - a má postura, a carga excessiva de peso durante os treinos, um trauma, entre outros.
           “Os motivos mais comuns estão relacionados aos fatores ocupacionais associados ao trabalho físico pesado, postura de trabalho estática, inclinar-se e girar o tronco frequentemente, levantar, empurrar e puxar, trabalho repetitivo e até mesmo fatores psicológicos e psicossociais são relatados na literatura” (Verderi, 2006).
           A idade também “pesa” contra os discos vertebrais, já que a passagem do tempo leva a uma redução no conteúdo hídrico no interior do disco (núcleo pulposo), causando desidratações que provocam fendas radiais e a hérnia. “Nas mulheres isso acontece a partir dos 45 anos e, nos homens, a partir dos 50, mas adolescentes também podem ter hérnia de disco. Não é um problema exclusivo da idade. Além disso, a pessoa que se hidrata bastante, toma bastante água, ajuda a minimizar essa perda hídrica dos discos, embora não seja a principal medida preventiva” (Koplink, 2008).

Sinais de Alerta

              O profissional de educação física deve estar atento às queixas de seus alunos, sem tentar descobrir ou diagnosticar por conta a hérnia de disco. Gabriela relata que o aluno pode sentir parestesia (formigamento) com ou sem dor, dor com irradiação para os membros inferiores ou superiores (variando de acordo com a localização da hérnia), redução da sensibilidade e até fraqueza muscular.
         O profissional deve interromper qualquer tipo de exercício ao sinal de dor e orientar o aluno a procurar um ortopedista para a avaliação clínica. “É importante que o profissional de educação física saiba que uma vez hérnia, sempre hérnia. Pode melhorar a dor e se exercitar para evitar que ela volte, mas é preciso conhecimento por parte do profissional para evitar uma piora”, diz Thiago Carneiro, que destaca que alguns sinais e melhora estão relacionados à dor. O profissional da Acaica destaca que se a dor estiver centralizada na coluna e descer para a perna, significa uma piora no quadro do aluno. Agora, se a dor estava na perna e passar a centralizar na coluna, então houve uma melhora na hérnia. “Pode acontecer na aula ou dias depois e geralmente acontece por falta de conhecimento do profissional”, explica.
       Diagnóstico feito, cabe ao profissional fazer algumas restrições importantes como evitar cargas excessivas, exercícios que gerem carga axial ou movimentos que combinem rotação e flexão de coluna. Também é importante orientar o aluno de que a dor e a limitação gerada pela hérnia podem leva-lo à incapacidade funcional.
           “Sugere-se um fortalecimento muscular, que não seja na fase aguda de dor, de forma gradual de toda musculatura estabilizadora da coluna, como o quadrado lombar, iliopsoas, músculos abdominais, multifídeos, semi espinhais, iliocostal. Poderão ser realizados por meio de exercícios dinâmicos fora da fase aguda, e a isometria (cuidados aos alunos hipertensos) na fase aguda”, propõe Gabriela.
          Para Thiago Carneiro, muitos profissionais de educação física erram por não saberem como agir e como é o funcionamento correto da coluna. Assim, acabam prescrevendo exercícios que trazem dor. “A cervical precisa sustentar a cabeça, que pesa cerca de 4,5 kg, então tem que fortalecer essa musculatura e evitar os exercícios que vão levantá-la, como os abdominais tradicionais. Já os exercícios de descompressão ajudam a aliviar a dor. Na lombar, é interessante evitar a flexão de tronco.”
           Exercícios de alongamentos passivos e isolados e aqueles de mobilidade para coluna são bem-vindos até o limiar de dor, enquanto os de tração podem auxiliar no processo, desde que realizado como complemento de um tratamento, e tão somente por um fisioterapeuta com conhecimento a fazê-lo. “Não cabe ao profissional da Educação Física realizar este procedimento”, frisa Gabriela.
          Em relação ao tratamento, o médico Alexandre Elias conta que, em 90% dos casos, a dor é bem controlada com medicamentos (anti-inflamatórios, analgésicos e relaxantes musculares). E que podem ser acompanhados de fisioterapia analgésica, RPG ou acupuntura, profissional de educação física, sempre sob orientação médica.

Prevenção

          O especialista do Hospital Sírio Libanês comenta ainda que, para evitar o problema, é preciso adquirir hábitos saudáveis como: cuidar da postura, carregar peso de forma correta, praticar atividade física com orientação, não ter sobrepeso, não ser sedentário e não ficar horas seguidas sentado no trabalho. "Deve-se mudar a posição, levantar, alongar e caminhar em intervalos de uma hora durante o trabalho ou estudo".
         A prática de atividade física ajuda a evitar a hérnia de disco, uma vez que o sedentarismo reduz o fluxo sanguíneo das vértebras, causando baixas concentrações de oxigênio no disco, reduzindo sua nutrição global e predispondo à desidratação, microfratura e fissura.
       Alexandre Elias afirma também que é importante praticar atividade física regular e ter o peso equilibrado: "Assim, a musculatura se mantém mais firme, o que ajuda a preservar a coluna no lugar e sem sobrecarga, contribuindo para afastar as dores do nervo ciático. Porém, atividades físicas como caminhar ou nadar são contraindicadas durante uma crise aguda (com dor forte) porque existe o risco de se agravar o problema".
         Uma vez instalada, a hérnia de disco é “pra sempre” a não ser que o aluno passe por uma cirurgia, requerendo atenção especial do profissional de educação física para sua devida recuperação. Carneiro conta que algumas exercícios, como o de ponte com bola e a série de Mackenzie são capazes até de fazer a hérnia retornar para dentro do disco (“mas só se for um caso de hérnia mole. Hérnias duras são casos mais sérios”, frisa).
        O profissional de educação física deve buscar o conhecimento constante para saber como funciona e como lidar com a coluna.“A complexidade da coluna é tanta que é fundamental compreendê-la. Por meio da avaliação postural estática e em movimento, além de outros métodos, pode-se minimizar as chances de errar e comprometer a doença daquele aluno”, diz Thiago Carneiro.
 

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